quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

A tragédia que vitimou o pequeno João Roberto Amorim Soares


O menino João Roberto Amorim Soares, de 3 anos, foi baleado no dia 06/07/08 na Tijuca, quando policiais militares metralharam o carro de sua mãe, a advogada Alessandra Soares e morreu às 20h10 do dia 07/07/08. O carro teria sido “confundido” por policiais com um veículo usado por criminosos em fuga.

No domingo 6, a advogada carioca Alessandra Soares voltava de uma festa de família, quando uma perseguição policial cruzou seu caminho. Eram 19h30. Com os filhos de 9 meses e 3 anos no banco de trás do carro, ela já estava praticamente na esquina de casa, na Tijuca, na Zona Norte do Rio de Janeiro. Em um edifício próximo, o circuito de TV registrou o que se transformaria em tragédia. Primeiro, um Fiat Stilo preto apareceu em disparada pela Rua General Espírito Santo Cardoso, que dá acesso a três favelas da região. Segundos depois, Alessandra encostou seu Palio Weekend cinza para dar passagem a uma viatura da PM. Em vez de continuar, o carro parou. Dois policiais saíram e começaram a atirar no automóvel da advogada. Alessandra jogou pela janela uma bolsa com pertences das crianças, para tentar mostrar que havia uma família ali. Mas os tiros só cessaram quando ela abriu a porta, aos gritos. Três balas tinham atingido seu filho João Roberto, de 3 anos. Ele morreu na segunda-feira, dias antes de seu quarto aniversário. 


O cabo William de Paula e o soldado Elias da Costa Neto disseram que o carro ficou sob fogo cruzado com os bandidos. Mas o laudo da perícia mostrou o que a gravação já deixara claro: não houve confronto. E, na lataria do carro de Alessandra, contam-se dezessete perfurações.

João Roberto teve a morte cerebral confirmada à tarde, mas era mantido ligado a aparelhos porque sua família havia autorizado a doação de seus órgãos. Quando o Rio Transplante constatou que apenas as córneas da criança poderiam ser transplantadas, os pais do menino e amigos, foram à UTI se despedir de João Roberto. Um pastor fez preces diante de todos e, logo em seguida, os aparelhos que ainda mantinham João Roberto vivo foram desligados, na frente de sua família.
De acordo com o chefe da pediatria do Hospital Copa D'Or, Arnaldo Prata, a criança tinha menos 5% de chances de sobreviver. 


Revoltado, o pai da criança, o taxista Paulo Roberto Amaral, desmentiu a versão de que havia um tiroteio no momento em que João Roberto foi baleado. Ele negou que o carro de sua família estivesse no meio de um fogo cruzado, como afirmou a polícia.

O desabafo do pai Paulo Roberto Soares: 

“eu sou cidadão de bem, eu pago meus impostos, eu estava trabalhando pra isso... Eu não posso pagar por essa sociedade podre que eles construiram... eu sou uma pessoa de bem... é isso que eu sou...”



Vestido com a roupa do Homem-Aranha, o corpo do pequeno João Roberto foi enterrado no Cemitério do Caju, Zona Portuária.

O pequeno João Roberto foi enterrado aos gritos de “justiça”  pouco depois das 17h da terça-feira (08/07/2008). No momento do sepultamento, acompanhado por cerca de 300 pessoas, 
entre parentes, amigos, vítimas da violência e integrantes de ONGs, marcado por emoção e revolta, o pai da criança, Paulo Roberto Barbosa Soares, pediu uma salva de palmas em homenagem ao filho.

“Você não vai morrer dentro do meu coração. Você não merece isso. Foi uma covardia o que fizeram com você”, foram as últimas palavras do pai para seu filho, que foi enterrado vestindo a roupa do Homem-Aranha, seu personagem preferido, que seria tema da sua festa de aniversário de 4 anos, no dia 29 de julho.

Após o sepultamento, integrantes do Movimento Rio de Paz soltaram um balão vermelho, em homenagem ao menino. Eles também carregavam duas faixas. Uma delas dizia "João Roberto - 3 anos - tragédia anunciada" e a segunda trazia estatísticas de homicídios no Estado entre 2000 e 2007 e projeções para 2008.

Carlos Santiago Ribeiro e Cleyde Prado Maia Ribeiro, pais de Gabriela, do Movimento Gabriela Sou da Paz estiveram presentes e prestaram solidariedade aos pais do menino João Roberto.

Cerca de 200 taxistas foram prestar homenagem a Paulo Roberto, seu companheiro de profissão, que trabalha na Grajaú Service. Eles chegaram juntos ao cemitério e ajudaram a fazer um cordão de isolamento para a passagem do caixão. 

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