A Tragédia


O menino João Roberto Amorim Soares, de 3 anos, foi baleado no dia 06/07/08 na Tijuca, quando policiais militares metralharam o carro de sua mãe, a advogada Alessandra Soares e morreu às 20h10 do dia 07/07/08. O carro teria sido “confundido” por policiais com um veículo usado por criminosos em fuga.

No domingo 06/07, a advogada carioca Alessandra Soares voltava de uma festa de família, quando uma perseguição policial cruzou seu caminho. Eram 19h30. Com os filhos de 9 meses e 3 anos no banco de trás do carro, ela já estava praticamente na esquina de casa, na Tijuca, na Zona Norte do Rio de Janeiro. Em um edifício próximo, o circuito de TV registrou o que se transformaria em tragédia. Primeiro, um Fiat Stilo preto apareceu em disparada pela Rua General Espírito Santo Cardoso, que dá acesso a três favelas da região. Segundos depois, Alessandra encostou seu Palio Weekend cinza para dar passagem a uma viatura da PM. Em vez de continuar, o carro parou. Dois policiais saíram e começaram a atirar no automóvel da advogada. Alessandra jogou pela janela uma bolsa com pertences das crianças, para tentar mostrar que havia uma família ali. Mas os tiros só cessaram quando ela abriu a porta, aos gritos. Três balas tinham atingido seu filho João Roberto, de 3 anos. Ele morreu na segunda-feira, dias antes de seu quarto aniversário. 

João Roberto teve a morte cerebral confirmada à tarde, mas era mantido ligado a aparelhos porque sua família havia autorizado a doação de seus órgãos. Quando o Rio Transplante constatou que apenas as córneas da criança poderiam ser transplantadas, os pais do menino e amigos, foram à UTI se despedir de João Roberto. Um pastor fez preces diante de todos e, logo em seguida, os aparelhos que ainda mantinham João Roberto vivo foram desligados, na frente de sua família.

De acordo com o chefe da pediatria do Hospital Copa D'Or, Arnaldo Prata, a criança tinha menos 5% de chances de sobreviver. 


Revoltado, o pai da criança, o taxista Paulo Roberto Amaral, desmentiu a versão de que havia um tiroteio no momento em que João Roberto foi baleado. Ele negou que o carro de sua família estivesse no meio de um fogo cruzado, como afirmou a polícia.

O desabafo do pai Paulo Roberto Soares: 

“eu sou cidadão de bem, eu pago meus impostos, eu estava trabalhando pra isso... Eu não posso pagar por essa sociedade podre que eles construiram... eu sou uma pessoa de bem... é isso que eu sou...”


Sepultamento

Vestido com a roupa do Homem-Aranha, o corpo do menino João Roberto foi enterrado no Cemitério do Caju, Zona Portuária. Cerca de 300 pessoas - entre parentes, amigos, vítimas da violência e integrantes de ONGs - compareceram ao enterro. 
Após o sepultamento, integrantes do Movimento Rio de Paz soltaram um balão vermelho, em homenagem ao menino. Eles também carregavam duas faixas. Uma delas dizia "João Roberto - 3 anos - tragédia anunciada" e a segunda trazia estatísticas de homicídios no Estado entre 2000 e 2007 e projeções para 2008.
Carlos Santiago Ribeiro e Cleyde Prado Maia Ribeiro, pais de Gabriela, do Movimento Gabriela Sou da Paz estiveram presentes e prestaram solidariedade aos pais do menino João Roberto.
Cerca de 200 taxistas foram prestar homenagem a Paulo Roberto, seu companheiro de profissão, que trabalha na Grajaú Service. Eles chegaram juntos ao cemitério e ajudaram a fazer um cordão de isolamento para a passagem do caixão. 

Julgamento do cabo William de Paula

O cabo William de Paula, acusado de matar o menino, João Roberto, 3 anos, na Tijuca, foi absolvido pelo crime de homicídio doloso, por quatro votos a três, em julgamento no dia 10/12/2008 no 2º Tribunal do Júri. Ele foi condenado por lesão corporal leve contra a mãe e o irmão do menino a sete meses em regime aberto, mas a pena foi convertida para prestação de serviços comunitários por 1 ano.
O Ministério Público recorreu e, em 2009, a Justiça anulou a sentença, determinando que o acusado fosse levado a novo julgamento pelo Tribunal do Júri. O denunciado Elias Gonçalves recorreu da sentença de pronúncia. Com isso, o seu processo foi desmembrado e ele será julgado pelo 2º Tribunal do Júri.

Julgamento do soldado Elias Gonçalves da Costa Neto

O julgamento do soldado Elias Gonçalves da Costa Neto que acompanhava o cabo William, e é acusado de matar o pequeno João Roberto Amorim Soares, foi realizado no dia 24 de novembro de 2011, no 2º Tribunal do Júri, no Centro do Rio de Janeiro, às 13 horas.
O ex-policial militar Elias Gonçalves foi absolvido. A decisão foi dada pelo júri popular, em sessão iniciada na tarde de 24/11, e lida pelo juiz Jorge Luiz Le Cocq D'Oliveira, do 2º Tribunal do Júri, por volta das 21h50. Os pais de João Roberto deixaram o local antes do resultado. Ainda cabe recurso à acusação.

Indenização

Em agosto de 2011 o Estado do Rio foi condenado a indenizar a família (pais, irmão e avós) do menino em um total de R$ 500 mil, além de ressarcir as despesas com o funeral e o sepultamento do corpo. Também deverá ser pago aos pais o correspondente a 2/3 do salário mínimo mensal no período em que a vítima teria entre 14 e 65 anos e uma quantia mensal correspondente a dez salários mínimos até junho de 2012, quando decorridos cinco anos do evento. Porém até hoje, 4 anos depois, os pais do menino não receberam o valor da indenização.